A brisa do mar levanta os grãos de areia e carrega memórias de uma vida na praia. Afetos, saudade e o amor de uma amizade verdadeira. Nara relembra a infância feliz na praia de Guaxuma, onde vivia livre entre o mar, os amigos e a inseparável amiga Tayra.
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Guaxuma (2018) é um curta de animação em stop motion, um retrato sensível da memória da diretora (Nara Normande), que narra uma retrospectiva de sua vida em Guaxuma, a praia alagoana onde nasceu e cresceu, centrando-se na relação com sua melhor amiga, Tarya. Assim como as memórias de Nara, que se materializam em fotos e nas histórias que seus pais contavam (como declara a própria voz autoral do filme), a narrativa é construída em imagens que se alternam entre fotografias reveladas e as animações em grãos de areia, desenhos que voam com o vento e se transformam em outras formas, outros tempos. É como quando sonhamos ou quando visitamos lugares longínquos da nossa existência – as memórias são como grãos de areia que viajam com o vento e se transformam, sem nosso controle, dando forma às nossas imagens mentais. É um pouco essa a construção que conduz a trama, formal e esteticamente.
O filme é uma homenagem póstuma sensível, bela e íntima, não apenas à Tarya, mas à própria história dessa relação única. A narração-voz da diretora se combina com as sequências visuais e elaboram um relato que se atém aos detalhes das lembranças: o vento sobre as árvores, o som do mar, a areia da praia, fragmentos de momentos vividos, aqueles que permanecem guardados. Grande parte da potência do curta reside no som: na voz, mas também nos elementos sonoros mais silenciosos, nos detalhes. É essa orquestra audiovisual que dá o tom de lembrança afetiva. A revelação das perdas, não apenas a perda da amiga, que padeceu de uma doença, mas as perdas que a distância desencadeia, adquirem um tom melancólico e carregam de sentidos a experiência de ver e ouvir Guaxuma: uma experiência tocante e imersiva. Ao menos para quem tem memórias como grãos de areia.